quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CURUMIZ: um novo conceito na arte amazônica

                                             Alzyney Pereira, à esquerda e Kemerson Freitas, à direita, os Curumiz. Foto: Luciano Ribeiro


No final do ano de 2017, os muros da área urbana de Parintins-Am* ganharam novas cores e uma nova linguagem artística. Das ruas para as redes sociais, não é difícil encontrar nos perfis de inúmeros parintineneses, fotografias dessas obras, contextualizando o cotidiano amazônico, uma mistura de ousadia e talento.
       Contudo, não se pode explicar a arte, sem vê-la, sentí-la ou imaginá-la. Todos esses sentimentos estão presentes na vida de Kemerson Freitas e Alzyney Pereira. Os artistas intitulados Curumiz, assinaram um novo conceito na arte amazônica e deram vida aos envelhecidos muros da área urbana de Parintins. Além de amigos, os jovens têm em comum a paixão pela arte, e a proporção que ela pode causar.
       Kemerson Freitas, (23), é licenciado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Amazonas, (Ufam), na região de Parintins. O parintinense iniciou a vida artística por volta dos seis anos de idade, desenhando nos cadernos utilizados em sala de aula. O dom do garoto chamou a atenção dos pais que, logo o matricularam na Escola de Artes Irmão Miguel de Pascale, (Escolinha do Boi Caprichoso, importante projeto social que ensina as diversas modalidades artísticas para crianças da cidade de Parintins). Aprimorou suas técnicas no curso de desenho pertencente ao Liceu de Artes Claudio Santoro, em Parintins.
         A história de Alzyney Pereira, (23), assemelha-se ao do amigo. Acadêmico do curso de Licenciatura em Artes Visuais, pela Ufam em Parintins, o jovem nasceu na cidade de Juruti, no Pará, e desde os cinco anos de idade mostrava talento pelo desenho. Fã dos desenhos infantis, o garoto reproduzia no papel o que assistia, aprimorando mais o talento artístico. A partir disso, a mãe de Alzyney o colocou na escola de arte Pastoral do Menor, situada no bairro Itaúna 2, em Parintins, onde ele reside até hoje.

O início

          A parceria surgiu na universidade, durantes as aulas de desenho, ministradas pelo professor Edson Macaline. Na época, Edson propôs aos alunos a utilização de uma arte mais contemporânea a partir do estilo artístico utilizado na região amazônica. A semelhança pelo gosto e o estilo de desenhos dos dois acadêmicos os uniu durante as atividades do curso, e ultrapassou os muros da universidade.
        O aperfeiçoamento no trabalho dos artistas aconteceu a partir do projeto Arte na periferia, idealizado pela prefeitura de Parintins em parceria com a escola de artes Pastoral do Menor, realizado na própria instituição. Foi a primeira pintura dos jovens no muro. O diferencial na obra artística chamou a atenção do público e instigou o talento dos artistas que, começavam a descobrir um estilo próprio no campo da arte parintinense.
Com o sucesso da primeira pintura e a repercussão positiva nas redes sociais, os jovens levaram em frente os trabalhos, em busca dos muros abandonados pela cidade. Outros muros eram solicitados, por se tratarem de obras particulares, mas, os jovens sempre arcaram com as despesas dos materiais durante a produção dos murais.
No início quando fomos pintar os muros, ao tirarmos os sprays da mochila, algumas pessoas temiam que fôssemos pichar como um ato de vandalismo, esse foi o primeiro paradigma que enfrentamos”. Relembra Kemerson, sorrindo.


          Kemerson Freitas, inciando uma releitura regional de Frida Kahlo
Foto: Alzyney Pereira




Alzyney Pereira, em ação, obra Mãe terra.Foto: Kemerson Freitas



No início das obras de arte, os artistas utilizavam a técnica do lambe-lambe (arte desenvolvida com o papel colado no muro, uma modalidade de estreet art), depois começaram a utilizar o grafite (pintura à base de spray), para o melhor aperfeiçoamento. São por meio de tutoriais pesquisados na internet que, os artistas aprendem cada vez mais novas técnicas de utilização para pinturas em muros


Curumiz e suas inspirações artísticas

Autorretrato “Curumiz”. Foto: Arquivo pessoal

O codinome artístico Curumiz, surgiu no final do ano de 2017, quando os jovens começaram sair para as ruas de Parintins. Primeiramente assinavam o codinome A.K Riverman, (junção das primeiras letras de seus nomes, hiverman significa ribeirinho em inglês), porém não gostaram da junção e optaram por algo mais simples e criativo.
          A ideia surgiu na confecção do segundo mural. Durante uma das saídas dos jovens pelas ruas, o professor Erick Nakanome ao vê-los pintando, gritou:
          -Esses curumins já estão pintando aí! – Relembra Alzyney.
      Por meio desse fato, os amigos tiveram a ideia de assinar as obras e firmar o codinome Curumiz, por se tratar de um termo regional, curumim, ( palavra de origem tupi, e designa, de modo geral, as crianças indígenas, do sexo masculino). A palavra foi modificada e acrescentada a letra “z”, no final, criação dos próprios artistas.
Além das referências artísticas regionais na bagagem, os jovens também são inspirados por artistas renomados. A admiração pelas obras de  Van Gogh, Salvador Dali, Modigliani, Basquiá, Os gêmeos e Eduardo Kobra, foram fundamentais no desenvolvimento artístico dos jovens que, criaram uma identidade própria desde então.
Os gêmeos foram uma forte influência para gente, pois, vimos que, são duas cabeças para pensar unicamente uma ideia, tão ímpar”, afirma Kemerson Freitas. Ele acrescenta que, a arte parintinense é uma temática bastante discutida na universidade, e que essa arte regional precisa ser trabalhada num estilo mais contemporâneo.
As obras criadas pelos Curumiz são definidas de arte urbana, mas com uma linguagem amazônica que, retrata o cotidiano rural. São utilizadas nas obras, pessoas anônimas, elementos ribeirinhos e a fauna pouco usada nas telas, trabalhadas numa linguagem diferenciada, uma arte própria desenvolvida pelos artistas.


   Das manivas do caboclo”. Obra que fez parte da exposição “Conterrâneo”. Foto: arquivo pessoal Curumiz.
   


      Alzyney aponta o professor do curso de Artes Visuais (Ufam/Parintins) Edson Macaline como um grande incentivador durante o percurso dos jovens. “Ele propôs que utilizássemos mais experimentações, outros materiais, outras superfícies para pintar, outro método de desenho, por isso não temos um estilo definido, as pinturas surgem de acordo com as nossas experimentações artísticas e os diversos elementos que utilizamos”, destaca o artista.
Apesar dos desafios e situações constrangedoras, os muros pintados pelos artistas, embelezam e alegram os ambientes urbanos de Parintins. Com a arte reconhecida, surgiram as encomendas, o que os ajudou a custear os materiais que, raramente são encontrados em Parintins, outros eles compram pela internet.


Exposições e a dimensão artística

Os artistas participaram da abertura do 11º Salão Curupira de Artes Plásticas, em Manaus, evento realizado em 2018, onde foram expostas várias exposições com a participação dos artistas de Manaus e do interior do Amazonas. 
A segunda exposição foi individual, intitulada de Conterrâneo, ocorreu em 2019, na galeria do Largo São Sebastião, espaço em frente ao Teatro Amazonas, no centro de Manaus.

  Flyer de divulgação da exposição “Conterrâneo”.

                                                                              
Essa exposição abriu muitas portas para gente, as pessoas viram que em Parintins tem o trabalho de arte urbana, que há também artistas da arte contemporânea”, ressalta Kemerson, referindo-se a exposição Conterrâneo.
Recentemente os jovens participaram da exposição intitulada “Lixo nosso de cada dia”. O evento aconteceu em outubro de 2019, nas dependências do Liceu de Artes Claudio Santoro, em Parintins. À convite da museóloga Veralucia Ferreira, os artistas produziram dois murais de instalação, unindo o grafite ao lixo produzido na cidade.

                                                  Os Curumiz e as obras “Eu” (à esquerda) e “Até o tucupi” (à direita). 
                                                 Ambas foram produzidas para a exposição “Lixo nosso de cada dia”. Foto: Rendrick Azevedo. 

                                                                 


Futuramente os artistas almejam expandir suas obras para outros lugares, onde a arte urbana é mais presente, com o intuito de engrandecer o trabalho e buscar mais valorização. Entretanto, não só as metrópoles estão nos planos dos artistas, Alzyney acrescenta que levar a arte às pessoas mais necessitadas também faz parte do caminho que eles pretendem percorrer. Poder levar o estilo às comunidades ribeirinhas, outros locais circunvizinhos da cidade de Parintins são de suma importância para que eles possam se identificar, visto que, são personagens fortemente presentes nos murais.



Mãe terra”, produzida em um dos muros no centro da cidade de Parintins-AM.Foto: Arquivo pessoal Curumiz.



 “A arte existe porque a vida não basta”, é a frase que kemerson leva para a vida. O jovem acredita que o principal objetivo do trabalho dos Curumiz é fazer as pessoas compreenderem a arte além do que elas já conhecem. “Transformação” é a palavra que Alzyney determina como um importante papel desempenhado pela arte. “Esse é o nosso propósito, transformar as pessoas e os lugares que estavam mortos, por meio das cores e acima de tudo fazer com que as elas se identifiquem nas obras, retratando o seu cotidiano, a sua identidade cultural”, conclui o jovem.




Colorindo a cidade de Parintins, com a obra “Flores amazônicas”.                      Foto: Arquivo pessoal Curumiz




   
Painés “Flor de menina” e “Ribeirinhos”, fizeram parte da XI exposição do Salão Curupira de Artes, em Manaus, 2018. Foto: Arquivo pessoal Curumiz




"Tracajás de beiradão”, a obra fez parte da exposição “Conterrâneo”, realizada no Largo São Sebastião, em Manaus. 
Foto: Arquivo pessoal Curumiz, 2019.



     

                                             "Umukosurãpanami- criador da luz no universo"
Arte feita sobre a mitologia do índios dessana sobre criação do sol, do universo, tendo como referência o livro "Antes o Mundo não existia", da qual conta que este heroi dessana Umukosurãpanami direcionado por Yeba Boro, joga sua lança contra o nada, criando a luz no universo, assim nascendo o sol e o sistema cósmico. Foto e legenda: Arquivo pessoal Curumiz



*Parintins é um município brasileiro no interior do estado do Amazonas. Pertence à mesorregião do Centro Amazonense e microrregião de mesmo nome, localizando-se no extremo leste do estado, distante cerca de 369 quilômetros da capital Manaus (IBGE)

domingo, 27 de outubro de 2019

VOZES DE PARINTINS: Rádio-poste e Comunicação na Amazônia profunda

 Capa do livro-reportagem/ designer Vando Costa

A obra propõe-se a contar a história das rádios-postes Amazônia Beira Rio e a Voz Comunitária de Parintins por meio do resgate histórico, das memórias orais e bibliográficas de quem vivenciou os principais serviços de rádio por alto-falantes, que perduraram durante a construção da cidade de Parintins enquanto sua formação urbana nas décadas de 30 até os dias atuais, validadas por fotografias emblemáticas da época.
Neste caso, a narrativa abordada nesta obra se faz por meio das rádios-postes, conhecidas no Baixo Amazonas como Vozes, e em todos os capítulos deste livro serão assim identificadas. Esses meios de entretenimento muito serviram e continuam a contribuir com a comunicação parintinense, apesar do curto alcance. Funcionam em sistema de alto-falantes, de baixa potência, atingindo apenas alguns quilômetros, não sendo ouvida por todos.
Cicilia Peruzzo (2010) afirma que a rádio de alto-falante é uma modalidade de rádio comunitária, conhecida popularmente como rádio-poste ou rádio-corneta. Transmite as mensagens por meio das bocas de alto-falantes e caixas amplificadas de som. São instaladas geralmente em postes de iluminação pública, árvores ou torres de igreja. (PERUZZO, 2010)
      Milton Jung (2011), no livro Jornalismo de Rádio, relata a transmissão artesanal feita por esse serviço, e de como chegava aos receptores um veículo sonoro que encantou Roquete-Pinto (um dos primeiros a trabalhar com radiojornalismo) ao ver pela primeira vez o funcionamento de um alto-falante.
      Paulo Lobato Teixeira (2007) destaca que os serviços de alto-falantes foram e ainda estão presentes na Amazônia profunda. Nas zonas rurais do estado do Amazonas, os serviços de alto-falantes não apenas existem como são fundamentais para a região.  
     Atualmente, na cidade de Parintins restaram poucos serviços de alto-falantes. É interessante pontuar que os cones de ferro, principais coadjuvantes desse sistema, que existem desde o início da cidade e perduraram até os dias atuais, continuam a fazer parte do cenário comunicacional de Parintins, mudando apenas de nomes, mas mantendo as mesmas características e englobando os serviços variados por meio de avisos, propaganda e campanhas de consciência ambiental.
  Uma das motivações para a realização da pesquisa que culminou neste livro remonta à minha infância, preenchida pelas Vozes desde os tempos áureos de escola, na minha amada terra natal, o distrito de Mocambo do Arari, zona rural de Parintins. Como não lembrar, pontualmente, ao meio dia e trinta, horário do Jornal da Amazônia, quando a Voz Talismã, situada na residência do professor Carlos Cid, entrava em cadeia com a Rádio Alvorada, e minha mãe alertava-me que já estava na hora de eu ir para aula?
Durante as manhãs, os avisos de reuniões da escola e da comunidade eram veiculadas na Voz de Juscelino, e ao lado da Escola Santa Maria, onde dei os primeiros passos na vida escolar, ainda recordo-me dos lembretes e as músicas durante o recreio e no término das aulas, ecoados pela Voz.
No final da tarde, dirigindo-se para a noite, lá estavam os alto-falantes da Voz Talismã, novamente embalando as músicas de Chico da Silva e Roberto Carlos, certamente servindo de relógio para os estudantes do horário noturno.
      Por meio deste resgate memorial, desejo a todos uma ótima viagem ao passado e uma agradável leitura!


O livro contém cinco capítulos


 Orientadora professora dra. Karliane Nunes Macedo   Foto: José Brilhante

Banca avaliadora professores doutores: Gerson Andrade, Karliane Nunes e Maria Audirene Cordeiro  Foto: José Brilhante






O livro ainda não foi lançado.  Está disponível para recebimento de patrocínios!
     Contato: (92)994070614  Aldair Rodrigues

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Parintins e seus visitantes, amantes da cultura do boi-bumbá




Ele veio de Barretos (São Paulo). Na sua bike motorizada, chamou a atenção dos que passavam apressadamente pelas ruas do Bairro da Francesa. Na sua garupa, carrega cds, divulgando a melodia sertaneja na terra das toadas. Apresenta-se pelo nome 'Sombra', muito ágil ao subir o seu transporte. A altura nenhum pouco modesta. Carrega no guidon a face de um boi, figuramente representado pelos afintriões da ilha,  Garantido❤ e Caprichoso💙.
Foto:@Ald.Rodrigues, 2018


Na sua garupa, carrega cds, divulgando a melodia sertaneja na terra das toadas. Apresenta-se pelo nome 'Sombra', muito ágil ao subir o seu transporte. A altura nenhum pouco modesta. Carrega no guidon a face de um boi, figuramente representado pelos afintriões da ilha,  Garantido❤ e Caprichoso💙.
Foto:@Ald.Rodrigues, 2018


Quem nunca parou para escutar a harmoniosa e tranquilizante melodia de Pedro Quiper, na Praça Eduardo Ribeiro? Andarilho há mais de 30 anos. Conheceu mais de dez países. É músico e multi-instrumentista. Natural do Chile. Esteve por Parintins, trazendo a cultura da sua região, vendendo seu artesanato e tocando o coração dos parintinenses.
📝Informações de Suzane Barbosa
Foto: @Ald.Rodrigues, 2018


A simpática turista, vendedora de brincos. Toda sorridente, fez questão de pousar para a foto, numa de suas passadas pelo famoso Bar do Comunas, na orla da cidade de Parintins.

Foto: @Ald.Rodrigues, 2018

Os rapazes, nitidamente expressam a paixão pelos bois bumbás, representados pelos adereços nas respectivas cores vermelho e azul. Aproveitando a cidade, o calor e os encantos da ilha.
Foto: @Ald.Rodrigues, 2018




#turistas #Terra_hospitaleira #Tem_turista_o_ano_todo
#Parintins_AM

Caminho de penúria


O descanso do andarilho  Foto: Aldair Rodrigues

   Após percorrer as calorosas ruas, os badalados eventos e os constantes olhares de nojo e compaixão, o repouso é a melhor opção.

   A cor morenez maltratada pela própria luz que lhe servira, exala o odor do cansaço em suas vestes raramente ensaboadas.

   No rosto as marcas de um caminho regado ao vício, ao desprezo, a cegueira perceptível, ao tímido sorriso falho.

   De sua boca um emaranhado de palavras, a incoerência entre o sujeito e a ação, entre o que é certo ou errado, são apenas palavras ao vento.

   No corpo a dor do destino cruel, da irracionalidade, da escolha inconsequente, do abandono fraternal, talvez.

   Na anestesia do sono, ainda há sonhos? Ou é apenas um corpo em repouso? Uma matéria no espaço? Há esperanças ao acordar?

   Enfim ele desperta aos sons das buzinas e motores dos carros e motos que insistem em perturbá-lo.

   Com a mochila nas costas e a sacola quase cheia ele sai novamente, passos lentos, resmungando com o vento!

Texto e foto: Aldair Rodrigues

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

FAMÍLIA HOMENAGEIA SANTO CASAMENTEIRO EM PARINTINS


Gerações da família Cid                                          Foto: Aldair Rodrigues

Já são mais de 25 anos realizando a promessa que inciou pelo patriarca, em honra a Santo Antônio

O dia 13 de junho é considerado a dia oficial em honra a Santo Antônio, intitulado por seus adoradores como o santo casamenteiro. Há mais de duas décadas, a família Cid, tradicional da rua Alberto Mendes, no bairro do Palmares em Parintins, realiza a distribuição de guloseimas aos já conhecedores do evento e aos passantes que circulam em frente a residência da família.

O festejo, que partiu do patriarca Francisco Luis do Amaral Cid, a princípio era realizado no dia 23 de junho, com a distribuição apenas do mingau de munguzá. Dona Valderiza Cid, viúva de Francisco, questinou ao marido na época , para que a festividade fosse realizada na data oficial do santo, dia 13 de junho.

A partir desse questionamento, oficialmente o evento passa a ser realizado anualmente, no dia 13 de junho, em frente à residência dos Cid. Para Valderiza, dar continuidade a esse ato de fé, legado deixado pelo falecido esposo, simboliza renovação da promessa e gratidão, às conquistas alcançadas pela família ao longo dos anos.

No evento, além do tradicional mingau, são distribuídos bolo e pipoca. A noite é aquecida pela fogueira que simboliza a fé viva no berço familiar. Enquanto são degustadas as iguarias, o som junino é entoado, celebrando o momento de alegria e gratidão ao santo.

Apesar de o evento alcançar apenas os passantes da rua e os amigos conhecedores da honraria, dona Valderiza e os filhos anseiam para que a cada ano, o festejo se torne cada vez mais popular.

Fotos e texto: Aldair Rodrigues








VIDA DE BARBEIRO

Francisco Justo Nascimento          Foto: Aldair Rodrigues


"Pra fazer barba eu desafio qualquer um". Foram palavras  de Francisco Justo Nascimento,  73 anos, ao me responder sobre o longo percurso da nobre profissão.

Sangue nordestino, vindo da cidade de Sobral, no Ceará. Chega em Parintins no ano de 1981. São 37 anos no ramo da barbearia.

"Faço somente trabalho de barberia". Ele diz, ao mesmo tempo em que empunha nas mãos já calejadas pelo tempo, ligeiramente a navalha  sem perder a agilidade.

No universo das lojas que movimentam a Avenida Amazonas está o Salão Cometa. Lugar pequeno, aconchegante e muito iluminado.

Não pelas lâmpadas fluorescentes fixadas no telhado interno. Mas, pela força de sua vitalidade e simpatia que ele demonstra a cada sorriso receptivo aos clientes, durante as três décadas.

Texto e foto: Aldair Rodrigues







#RostosUrbanos #Parintinense #Barbeiro #ACaradeParintins #SalãoCometa

CAFÉ E CONVERSA COM MULHER

Kayth karine e Leane Oliveira, organizadoras do evento

"Café e conversa com mulher" foi o evento ocorrido no dia 8 de outubro, no auditório da Ufam em Parintins, organizado pelas acadêmicas do curso de Comunicação Social- jornalismo Kayth Kariny e Leane Oliveira da mesma instituição.

Com o tema "Uma comunicação feminista", a roda de conversa foi mediada por representantes dos movimentos sociais feministas de Parintins e abordou o conceito, além de esclarecer as dúvidas que norteiam essa temática em prol à luta pelos direitos das mulheres na sociedade.

Após o bate-papo, foi servido um café regional aos participantes, e também houve a coleta de assinaturas para que, o dia 8 de março, considerado o Dia Internacional da Mulher se torne feriado municipal.

Fotos: Assessoria do evento

#CaféEConversaComMulher #MovimentosSociaisFeministas #AcadêmicasDiscutemOFeminismo #Jornalismo #UfamParintinsAM



RAPHAELA PRATA

Foto: Aldair Rodrigues


Se assumir é uma grande libertação para respeitar o nosso eu interior e buscar a felicidade”

Natural de Parintins-Am, 31 anos, Raphaela faz parte da Associação de Gays, Lésbicas e Travestis de Parintins (Aglpin) na área de finanças. É educadora no projeto “Viva Melhor Sabendo”, realizado pelo Healthcare Foundation Brasil (AFH); uma iniciativa desenvolvida no Brasil desde 2014 e agora ganha espaço no município de Parintins. A ação amplia a testagem do HIV mediante a tecnologia de testes rápidos por fluido oral, além de conscientizar a população quanto a prevenção. Raphaela não fugiu do preconceito. Hoje ela luta pela classe LGBTI e encara a vida de uma forma mais leve e feliz. Sorridente, bem humorada e com clareza nas palavras, ela conversou com o Mural das Narrativas e compartilhou sua história.

Mural das Narrativas: Como você se identifica atualmente na sociedade?
Raphaela Prata: Eu sou uma travesti, mas me identifico como uma mulher. Aos poucos a gente vai conquistando o nosso espaço. Não seria uma conquista só minha, mas de todo o movimento ao qual eu represento.

M.N: A partir de que momento você percebeu que o seu comportamento era diferente dos outros meninos?
R.P: Na minha infância, entre os sete, oito anos eu brincava muito com meninas. Eu brincava com as coisas da minha irmã. A minha mãe comprava uma boneca para ela, eu queria às vezes para mim. Eu não tive muito contato com meninos. Então eu ficava triste por não me encaixar nas brincadeiras deles. Devido a isso, eu ouvia muitos comentários maldosos.

M.N: Como era a reação da sua família diante desse comportamento?
R.P: Na verdade eu tenho outra irmã que também é trans. Meu pai não gostava, na época que eu comecei a me transvestir ele dizia que eu seguia o exemplo do meu irmão. Ao mesmo tempo em que ele me aceitava demonstrava que não aceitava. Hoje em dia ele me apoia em tudo o que eu faço. Eu tenho uma família que é a base de tudo na minha vida.

M.N: Qual foi a maior dificuldade durante esse processo?
R.P: Acredito que, ser aceita na sociedade não foi fácil. É importante frisar que ninguém escolhe ser uma travesti. Nascemos com isso e se desenvolve na infância, na adolescência. Eu já me ‘montava’ para shows de transformismo, e outros tipos de eventos. Mas, passei a me transvestir constantemente só depois dos dezoito anos.

M.N: Como foi o procedimento para oficializar o novo registro de identidade?
R.P: Eu participo de vários grupos voltados à classe LGBT em Manaus. Nós do movimento trans de Parintins temos parceria com a ASSOTRAM (Associação e travestis, transexuais e transgêneros do Estado do Amazonas) que é de Manaus. Sou muito grata ao Dr. Rodolfo Lobo, defensor público que abriu muitas portas para a gente nessa questão. Nos nossos encontros debatíamos sobre esse tema, então foi aí que surgiu o interesse, já que a lei tramita desde o dia primeiro de março de 2019. Primeiramente eu troquei o título eleitoral e o cartão do SUS, ultimamente eu fiz a retificação na certidão de nascimento em parceria com a defensoria pública. Acredito que na retificação do RG [registro geral] eu tenha sido uma das primeiras trans parintinenses.

M.N: Você passou por alguma situação constrangedora referente a documentação ainda não oficializada?
R.P: Uma vez eu estava num Congresso em Manaus, eu estava toda ‘montada’ e um rapaz perguntou meu nome e eu disse que me chamava Raphaela Prata. Ele insistiu em saber o meu nome de batismo, então houve a maior discussão, mas recebi o apoio dos amigos que estavam comigo no evento, tentando evitar a situação constrangedora.


M.N: Como você analisa as políticas públicas ao tratar essa questão?
R.P: Eu gostaria que houvesse mais projetos que amparassem os LGBTs. Na questão da empregabilidade, muitos encontram dificuldades no primeiro emprego, pela falta de oportunidade, e isso acarreta na maioria das vezes, o acesso às drogas e prostituições.

M.N: Como você enxerga a sociedade, ao tratar esse assunto tão polêmico?
R.P: Acredito que, de forma geral existe muito preconceito, mas as pessoas tentam esconder isso. E também o preconceito existe muitas vezes porque a maioria demonstra uma certa insegurança, além de que, muitas trans são vulgares e isso acaba contribuindo.

M.N: Você está satisfeita com o seu corpo? Se tivesse que mudar algo em você, o que seria?
R.P: Estou satisfeita sim. Acho que não mudaria nada. Eu apenas faço um tratamento de hormonioterapia em Manaus com uma especialista.

M.N: A redesignação sexual é um procedimento operatório muito delicado e não é somente a troca do orgão sexual, mas depende do processo psicológico do paciente. Você tem interesse nesse procedimento?
R.P: Não e nem pretendo. Não discrimino quem fez, não tenho vontade. Eu estou muito feliz com o meu corpo.

M.N: Quais os seus planos para o futuro?
R.P: No momento não tenho eles definidos, mas gostaria de ser mais respeitada na sociedade e nunca deixar de militar pelo movimento que represento. Quando eu entrei na associação LGBT, não conhecia muita coisa relacionada ao nossos direitos e agradeço a ela por me proporcionar esse leque de oportunidades e conhecimentos.





"Eu gosto e ler, me empoderar nos assuntos LGBT".Raphaela Prata
Foto: Aldair Rodrigues




"Orgulho é poder ser quem você é, em um mundo que te diz o contrário". Raphaela Prata
Foto: Aldair Rodrigues



"Sou uma pessoa que vai em busca dos objetivos, meio tímida, mas com um coração bom".
Raphaela Prata / Foto: Aldair Rodrigues


A parintinense gosta de viajar e durante as viagens participa de congressos que,
debatem os temas voltados à classe LGBT / Foto: Aldair Rodrigues


Educadora em ação, no projeto "Viva Melhor Sabendo". Foto: arquivo pessoal




Além os testes, os membros o projeto também fazem a distribuição dos preservativos Foto: arquivo pessoal