domingo, 27 de outubro de 2019

VOZES DE PARINTINS: Rádio-poste e Comunicação na Amazônia profunda

 Capa do livro-reportagem/ designer Vando Costa

A obra propõe-se a contar a história das rádios-postes Amazônia Beira Rio e a Voz Comunitária de Parintins por meio do resgate histórico, das memórias orais e bibliográficas de quem vivenciou os principais serviços de rádio por alto-falantes, que perduraram durante a construção da cidade de Parintins enquanto sua formação urbana nas décadas de 30 até os dias atuais, validadas por fotografias emblemáticas da época.
Neste caso, a narrativa abordada nesta obra se faz por meio das rádios-postes, conhecidas no Baixo Amazonas como Vozes, e em todos os capítulos deste livro serão assim identificadas. Esses meios de entretenimento muito serviram e continuam a contribuir com a comunicação parintinense, apesar do curto alcance. Funcionam em sistema de alto-falantes, de baixa potência, atingindo apenas alguns quilômetros, não sendo ouvida por todos.
Cicilia Peruzzo (2010) afirma que a rádio de alto-falante é uma modalidade de rádio comunitária, conhecida popularmente como rádio-poste ou rádio-corneta. Transmite as mensagens por meio das bocas de alto-falantes e caixas amplificadas de som. São instaladas geralmente em postes de iluminação pública, árvores ou torres de igreja. (PERUZZO, 2010)
      Milton Jung (2011), no livro Jornalismo de Rádio, relata a transmissão artesanal feita por esse serviço, e de como chegava aos receptores um veículo sonoro que encantou Roquete-Pinto (um dos primeiros a trabalhar com radiojornalismo) ao ver pela primeira vez o funcionamento de um alto-falante.
      Paulo Lobato Teixeira (2007) destaca que os serviços de alto-falantes foram e ainda estão presentes na Amazônia profunda. Nas zonas rurais do estado do Amazonas, os serviços de alto-falantes não apenas existem como são fundamentais para a região.  
     Atualmente, na cidade de Parintins restaram poucos serviços de alto-falantes. É interessante pontuar que os cones de ferro, principais coadjuvantes desse sistema, que existem desde o início da cidade e perduraram até os dias atuais, continuam a fazer parte do cenário comunicacional de Parintins, mudando apenas de nomes, mas mantendo as mesmas características e englobando os serviços variados por meio de avisos, propaganda e campanhas de consciência ambiental.
  Uma das motivações para a realização da pesquisa que culminou neste livro remonta à minha infância, preenchida pelas Vozes desde os tempos áureos de escola, na minha amada terra natal, o distrito de Mocambo do Arari, zona rural de Parintins. Como não lembrar, pontualmente, ao meio dia e trinta, horário do Jornal da Amazônia, quando a Voz Talismã, situada na residência do professor Carlos Cid, entrava em cadeia com a Rádio Alvorada, e minha mãe alertava-me que já estava na hora de eu ir para aula?
Durante as manhãs, os avisos de reuniões da escola e da comunidade eram veiculadas na Voz de Juscelino, e ao lado da Escola Santa Maria, onde dei os primeiros passos na vida escolar, ainda recordo-me dos lembretes e as músicas durante o recreio e no término das aulas, ecoados pela Voz.
No final da tarde, dirigindo-se para a noite, lá estavam os alto-falantes da Voz Talismã, novamente embalando as músicas de Chico da Silva e Roberto Carlos, certamente servindo de relógio para os estudantes do horário noturno.
      Por meio deste resgate memorial, desejo a todos uma ótima viagem ao passado e uma agradável leitura!


O livro contém cinco capítulos


 Orientadora professora dra. Karliane Nunes Macedo   Foto: José Brilhante

Banca avaliadora professores doutores: Gerson Andrade, Karliane Nunes e Maria Audirene Cordeiro  Foto: José Brilhante






O livro ainda não foi lançado.  Está disponível para recebimento de patrocínios!
     Contato: (92)994070614  Aldair Rodrigues

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Parintins e seus visitantes, amantes da cultura do boi-bumbá




Ele veio de Barretos (São Paulo). Na sua bike motorizada, chamou a atenção dos que passavam apressadamente pelas ruas do Bairro da Francesa. Na sua garupa, carrega cds, divulgando a melodia sertaneja na terra das toadas. Apresenta-se pelo nome 'Sombra', muito ágil ao subir o seu transporte. A altura nenhum pouco modesta. Carrega no guidon a face de um boi, figuramente representado pelos afintriões da ilha,  Garantido❤ e Caprichoso💙.
Foto:@Ald.Rodrigues, 2018


Na sua garupa, carrega cds, divulgando a melodia sertaneja na terra das toadas. Apresenta-se pelo nome 'Sombra', muito ágil ao subir o seu transporte. A altura nenhum pouco modesta. Carrega no guidon a face de um boi, figuramente representado pelos afintriões da ilha,  Garantido❤ e Caprichoso💙.
Foto:@Ald.Rodrigues, 2018


Quem nunca parou para escutar a harmoniosa e tranquilizante melodia de Pedro Quiper, na Praça Eduardo Ribeiro? Andarilho há mais de 30 anos. Conheceu mais de dez países. É músico e multi-instrumentista. Natural do Chile. Esteve por Parintins, trazendo a cultura da sua região, vendendo seu artesanato e tocando o coração dos parintinenses.
📝Informações de Suzane Barbosa
Foto: @Ald.Rodrigues, 2018


A simpática turista, vendedora de brincos. Toda sorridente, fez questão de pousar para a foto, numa de suas passadas pelo famoso Bar do Comunas, na orla da cidade de Parintins.

Foto: @Ald.Rodrigues, 2018

Os rapazes, nitidamente expressam a paixão pelos bois bumbás, representados pelos adereços nas respectivas cores vermelho e azul. Aproveitando a cidade, o calor e os encantos da ilha.
Foto: @Ald.Rodrigues, 2018




#turistas #Terra_hospitaleira #Tem_turista_o_ano_todo
#Parintins_AM

Caminho de penúria


O descanso do andarilho  Foto: Aldair Rodrigues

   Após percorrer as calorosas ruas, os badalados eventos e os constantes olhares de nojo e compaixão, o repouso é a melhor opção.

   A cor morenez maltratada pela própria luz que lhe servira, exala o odor do cansaço em suas vestes raramente ensaboadas.

   No rosto as marcas de um caminho regado ao vício, ao desprezo, a cegueira perceptível, ao tímido sorriso falho.

   De sua boca um emaranhado de palavras, a incoerência entre o sujeito e a ação, entre o que é certo ou errado, são apenas palavras ao vento.

   No corpo a dor do destino cruel, da irracionalidade, da escolha inconsequente, do abandono fraternal, talvez.

   Na anestesia do sono, ainda há sonhos? Ou é apenas um corpo em repouso? Uma matéria no espaço? Há esperanças ao acordar?

   Enfim ele desperta aos sons das buzinas e motores dos carros e motos que insistem em perturbá-lo.

   Com a mochila nas costas e a sacola quase cheia ele sai novamente, passos lentos, resmungando com o vento!

Texto e foto: Aldair Rodrigues

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

FAMÍLIA HOMENAGEIA SANTO CASAMENTEIRO EM PARINTINS


Gerações da família Cid                                          Foto: Aldair Rodrigues

Já são mais de 25 anos realizando a promessa que inciou pelo patriarca, em honra a Santo Antônio

O dia 13 de junho é considerado a dia oficial em honra a Santo Antônio, intitulado por seus adoradores como o santo casamenteiro. Há mais de duas décadas, a família Cid, tradicional da rua Alberto Mendes, no bairro do Palmares em Parintins, realiza a distribuição de guloseimas aos já conhecedores do evento e aos passantes que circulam em frente a residência da família.

O festejo, que partiu do patriarca Francisco Luis do Amaral Cid, a princípio era realizado no dia 23 de junho, com a distribuição apenas do mingau de munguzá. Dona Valderiza Cid, viúva de Francisco, questinou ao marido na época , para que a festividade fosse realizada na data oficial do santo, dia 13 de junho.

A partir desse questionamento, oficialmente o evento passa a ser realizado anualmente, no dia 13 de junho, em frente à residência dos Cid. Para Valderiza, dar continuidade a esse ato de fé, legado deixado pelo falecido esposo, simboliza renovação da promessa e gratidão, às conquistas alcançadas pela família ao longo dos anos.

No evento, além do tradicional mingau, são distribuídos bolo e pipoca. A noite é aquecida pela fogueira que simboliza a fé viva no berço familiar. Enquanto são degustadas as iguarias, o som junino é entoado, celebrando o momento de alegria e gratidão ao santo.

Apesar de o evento alcançar apenas os passantes da rua e os amigos conhecedores da honraria, dona Valderiza e os filhos anseiam para que a cada ano, o festejo se torne cada vez mais popular.

Fotos e texto: Aldair Rodrigues








VIDA DE BARBEIRO

Francisco Justo Nascimento          Foto: Aldair Rodrigues


"Pra fazer barba eu desafio qualquer um". Foram palavras  de Francisco Justo Nascimento,  73 anos, ao me responder sobre o longo percurso da nobre profissão.

Sangue nordestino, vindo da cidade de Sobral, no Ceará. Chega em Parintins no ano de 1981. São 37 anos no ramo da barbearia.

"Faço somente trabalho de barberia". Ele diz, ao mesmo tempo em que empunha nas mãos já calejadas pelo tempo, ligeiramente a navalha  sem perder a agilidade.

No universo das lojas que movimentam a Avenida Amazonas está o Salão Cometa. Lugar pequeno, aconchegante e muito iluminado.

Não pelas lâmpadas fluorescentes fixadas no telhado interno. Mas, pela força de sua vitalidade e simpatia que ele demonstra a cada sorriso receptivo aos clientes, durante as três décadas.

Texto e foto: Aldair Rodrigues







#RostosUrbanos #Parintinense #Barbeiro #ACaradeParintins #SalãoCometa

CAFÉ E CONVERSA COM MULHER

Kayth karine e Leane Oliveira, organizadoras do evento

"Café e conversa com mulher" foi o evento ocorrido no dia 8 de outubro, no auditório da Ufam em Parintins, organizado pelas acadêmicas do curso de Comunicação Social- jornalismo Kayth Kariny e Leane Oliveira da mesma instituição.

Com o tema "Uma comunicação feminista", a roda de conversa foi mediada por representantes dos movimentos sociais feministas de Parintins e abordou o conceito, além de esclarecer as dúvidas que norteiam essa temática em prol à luta pelos direitos das mulheres na sociedade.

Após o bate-papo, foi servido um café regional aos participantes, e também houve a coleta de assinaturas para que, o dia 8 de março, considerado o Dia Internacional da Mulher se torne feriado municipal.

Fotos: Assessoria do evento

#CaféEConversaComMulher #MovimentosSociaisFeministas #AcadêmicasDiscutemOFeminismo #Jornalismo #UfamParintinsAM



RAPHAELA PRATA

Foto: Aldair Rodrigues


Se assumir é uma grande libertação para respeitar o nosso eu interior e buscar a felicidade”

Natural de Parintins-Am, 31 anos, Raphaela faz parte da Associação de Gays, Lésbicas e Travestis de Parintins (Aglpin) na área de finanças. É educadora no projeto “Viva Melhor Sabendo”, realizado pelo Healthcare Foundation Brasil (AFH); uma iniciativa desenvolvida no Brasil desde 2014 e agora ganha espaço no município de Parintins. A ação amplia a testagem do HIV mediante a tecnologia de testes rápidos por fluido oral, além de conscientizar a população quanto a prevenção. Raphaela não fugiu do preconceito. Hoje ela luta pela classe LGBTI e encara a vida de uma forma mais leve e feliz. Sorridente, bem humorada e com clareza nas palavras, ela conversou com o Mural das Narrativas e compartilhou sua história.

Mural das Narrativas: Como você se identifica atualmente na sociedade?
Raphaela Prata: Eu sou uma travesti, mas me identifico como uma mulher. Aos poucos a gente vai conquistando o nosso espaço. Não seria uma conquista só minha, mas de todo o movimento ao qual eu represento.

M.N: A partir de que momento você percebeu que o seu comportamento era diferente dos outros meninos?
R.P: Na minha infância, entre os sete, oito anos eu brincava muito com meninas. Eu brincava com as coisas da minha irmã. A minha mãe comprava uma boneca para ela, eu queria às vezes para mim. Eu não tive muito contato com meninos. Então eu ficava triste por não me encaixar nas brincadeiras deles. Devido a isso, eu ouvia muitos comentários maldosos.

M.N: Como era a reação da sua família diante desse comportamento?
R.P: Na verdade eu tenho outra irmã que também é trans. Meu pai não gostava, na época que eu comecei a me transvestir ele dizia que eu seguia o exemplo do meu irmão. Ao mesmo tempo em que ele me aceitava demonstrava que não aceitava. Hoje em dia ele me apoia em tudo o que eu faço. Eu tenho uma família que é a base de tudo na minha vida.

M.N: Qual foi a maior dificuldade durante esse processo?
R.P: Acredito que, ser aceita na sociedade não foi fácil. É importante frisar que ninguém escolhe ser uma travesti. Nascemos com isso e se desenvolve na infância, na adolescência. Eu já me ‘montava’ para shows de transformismo, e outros tipos de eventos. Mas, passei a me transvestir constantemente só depois dos dezoito anos.

M.N: Como foi o procedimento para oficializar o novo registro de identidade?
R.P: Eu participo de vários grupos voltados à classe LGBT em Manaus. Nós do movimento trans de Parintins temos parceria com a ASSOTRAM (Associação e travestis, transexuais e transgêneros do Estado do Amazonas) que é de Manaus. Sou muito grata ao Dr. Rodolfo Lobo, defensor público que abriu muitas portas para a gente nessa questão. Nos nossos encontros debatíamos sobre esse tema, então foi aí que surgiu o interesse, já que a lei tramita desde o dia primeiro de março de 2019. Primeiramente eu troquei o título eleitoral e o cartão do SUS, ultimamente eu fiz a retificação na certidão de nascimento em parceria com a defensoria pública. Acredito que na retificação do RG [registro geral] eu tenha sido uma das primeiras trans parintinenses.

M.N: Você passou por alguma situação constrangedora referente a documentação ainda não oficializada?
R.P: Uma vez eu estava num Congresso em Manaus, eu estava toda ‘montada’ e um rapaz perguntou meu nome e eu disse que me chamava Raphaela Prata. Ele insistiu em saber o meu nome de batismo, então houve a maior discussão, mas recebi o apoio dos amigos que estavam comigo no evento, tentando evitar a situação constrangedora.


M.N: Como você analisa as políticas públicas ao tratar essa questão?
R.P: Eu gostaria que houvesse mais projetos que amparassem os LGBTs. Na questão da empregabilidade, muitos encontram dificuldades no primeiro emprego, pela falta de oportunidade, e isso acarreta na maioria das vezes, o acesso às drogas e prostituições.

M.N: Como você enxerga a sociedade, ao tratar esse assunto tão polêmico?
R.P: Acredito que, de forma geral existe muito preconceito, mas as pessoas tentam esconder isso. E também o preconceito existe muitas vezes porque a maioria demonstra uma certa insegurança, além de que, muitas trans são vulgares e isso acaba contribuindo.

M.N: Você está satisfeita com o seu corpo? Se tivesse que mudar algo em você, o que seria?
R.P: Estou satisfeita sim. Acho que não mudaria nada. Eu apenas faço um tratamento de hormonioterapia em Manaus com uma especialista.

M.N: A redesignação sexual é um procedimento operatório muito delicado e não é somente a troca do orgão sexual, mas depende do processo psicológico do paciente. Você tem interesse nesse procedimento?
R.P: Não e nem pretendo. Não discrimino quem fez, não tenho vontade. Eu estou muito feliz com o meu corpo.

M.N: Quais os seus planos para o futuro?
R.P: No momento não tenho eles definidos, mas gostaria de ser mais respeitada na sociedade e nunca deixar de militar pelo movimento que represento. Quando eu entrei na associação LGBT, não conhecia muita coisa relacionada ao nossos direitos e agradeço a ela por me proporcionar esse leque de oportunidades e conhecimentos.





"Eu gosto e ler, me empoderar nos assuntos LGBT".Raphaela Prata
Foto: Aldair Rodrigues




"Orgulho é poder ser quem você é, em um mundo que te diz o contrário". Raphaela Prata
Foto: Aldair Rodrigues



"Sou uma pessoa que vai em busca dos objetivos, meio tímida, mas com um coração bom".
Raphaela Prata / Foto: Aldair Rodrigues


A parintinense gosta de viajar e durante as viagens participa de congressos que,
debatem os temas voltados à classe LGBT / Foto: Aldair Rodrigues


Educadora em ação, no projeto "Viva Melhor Sabendo". Foto: arquivo pessoal




Além os testes, os membros o projeto também fazem a distribuição dos preservativos Foto: arquivo pessoal