Alzyney
Pereira, à esquerda e Kemerson Freitas, à direita, os Curumiz.
Foto: Luciano Ribeiro
No
final do ano de 2017, os muros da área urbana de Parintins-Am* ganharam novas cores e uma nova linguagem artística. Das ruas para
as redes sociais, não é difícil encontrar nos perfis de inúmeros
parintineneses, fotografias dessas obras, contextualizando o
cotidiano amazônico, uma mistura de ousadia e talento.
Contudo,
não se pode explicar a arte, sem vê-la, sentí-la ou imaginá-la.
Todos esses sentimentos estão presentes na vida de Kemerson Freitas
e Alzyney Pereira. Os artistas intitulados
Curumiz,
assinaram um novo conceito na arte amazônica e deram vida aos
envelhecidos muros da área urbana de Parintins. Além de amigos, os
jovens têm em comum a paixão pela arte, e a proporção que ela
pode causar.
Kemerson
Freitas, (23), é licenciado em Artes Visuais pela Universidade
Federal do Amazonas, (Ufam), na região de Parintins. O parintinense
iniciou a vida artística por volta dos seis anos de idade,
desenhando nos cadernos utilizados em sala de aula. O dom do garoto
chamou a atenção dos pais que, logo o matricularam na Escola de
Artes Irmão Miguel de Pascale, (Escolinha
do Boi Caprichoso, importante projeto social que ensina as diversas
modalidades artísticas para crianças da cidade de Parintins).
Aprimorou suas técnicas no curso de desenho pertencente ao Liceu de
Artes Claudio Santoro, em Parintins.
A
história de Alzyney Pereira, (23), assemelha-se ao do amigo.
Acadêmico do curso de Licenciatura em Artes Visuais, pela Ufam em
Parintins, o jovem nasceu na cidade de Juruti, no Pará, e desde os
cinco anos de idade mostrava talento pelo desenho. Fã dos desenhos
infantis, o garoto reproduzia no papel o que assistia, aprimorando
mais o talento artístico. A partir disso, a mãe de Alzyney o
colocou na escola de arte Pastoral
do Menor,
situada no bairro Itaúna 2, em Parintins, onde ele reside até hoje.
O
início
A
parceria surgiu na universidade, durantes as aulas de desenho,
ministradas pelo professor Edson Macaline. Na época, Edson propôs
aos alunos a utilização de uma arte mais contemporânea a partir do
estilo artístico utilizado na região amazônica. A semelhança pelo
gosto e o estilo de desenhos dos dois acadêmicos os uniu durante as
atividades do curso, e ultrapassou os muros da universidade.
O
aperfeiçoamento no trabalho dos artistas aconteceu a partir do
projeto Arte
na periferia,
idealizado pela prefeitura de Parintins em parceria com a escola de
artes Pastoral
do Menor,
realizado na própria instituição. Foi a primeira pintura dos
jovens no muro. O diferencial na obra artística chamou a atenção
do público e instigou o talento dos artistas que, começavam a
descobrir um estilo próprio no campo da arte parintinense.
Com
o sucesso da primeira pintura e a repercussão positiva nas redes
sociais, os jovens levaram em frente os trabalhos, em busca dos muros
abandonados pela cidade. Outros muros eram solicitados, por se
tratarem de obras particulares, mas, os jovens sempre arcaram com as
despesas dos materiais durante a produção dos murais.
“No
início quando fomos pintar os muros, ao tirarmos os sprays
da mochila, algumas pessoas temiam que fôssemos pichar como um ato
de vandalismo, esse foi o primeiro paradigma que enfrentamos”.
Relembra Kemerson, sorrindo.
Foto: Alzyney Pereira
Alzyney
Pereira, em ação, obra Mãe
terra.Foto:
Kemerson
Freitas
No
início das obras de arte, os artistas utilizavam a técnica do
lambe-lambe
(arte desenvolvida com o papel colado no muro, uma modalidade de
estreet
art), depois
começaram a utilizar o grafite
(pintura
à base de spray), para o melhor aperfeiçoamento. São por meio de
tutoriais pesquisados na internet
que, os artistas aprendem cada vez mais novas técnicas de utilização
para pinturas em muros.
Curumiz e suas inspirações artísticas
Autorretrato
“Curumiz”. Foto: Arquivo pessoal
O
codinome artístico Curumiz,
surgiu no final do ano de 2017, quando os jovens começaram sair para
as ruas de Parintins. Primeiramente assinavam o codinome A.K
Riverman,
(junção das primeiras letras de seus nomes, hiverman
significa ribeirinho em inglês), porém não gostaram da junção e
optaram por algo mais simples e criativo.
A
ideia surgiu na confecção do segundo mural. Durante uma das saídas
dos jovens pelas ruas, o professor Erick Nakanome ao vê-los
pintando, gritou:
-Esses
curumins já estão pintando aí! – Relembra Alzyney.
Por
meio desse fato, os amigos tiveram a ideia de assinar as obras e
firmar o codinome Curumiz,
por se tratar de um termo regional, curumim, ( palavra de origem
tupi, e designa, de modo geral, as crianças indígenas, do sexo
masculino). A
palavra foi modificada e acrescentada a letra “z”, no final,
criação dos próprios artistas.
Além
das referências artísticas regionais na bagagem, os jovens também
são inspirados por artistas renomados. A admiração pelas obras de
Van
Gogh, Salvador Dali, Modigliani, Basquiá, Os gêmeos e Eduardo
Kobra,
foram fundamentais no desenvolvimento artístico dos jovens que,
criaram uma identidade própria desde então.
“Os
gêmeos
foram uma forte influência para gente, pois, vimos que, são duas
cabeças para pensar unicamente uma ideia, tão ímpar”, afirma
Kemerson Freitas. Ele acrescenta que, a arte parintinense é uma
temática bastante discutida na universidade, e que essa arte
regional precisa ser trabalhada num estilo mais contemporâneo.
As
obras criadas pelos Curumiz
são definidas de arte urbana, mas com uma linguagem amazônica que,
retrata o cotidiano rural. São utilizadas nas obras, pessoas
anônimas, elementos ribeirinhos e a fauna pouco usada nas telas,
trabalhadas numa linguagem diferenciada, uma arte própria
desenvolvida pelos artistas.
“Das
manivas do caboclo”. Obra que fez parte da exposição
“Conterrâneo”. Foto: arquivo pessoal Curumiz.
Alzyney aponta o professor do curso de Artes Visuais (Ufam/Parintins) Edson Macaline como um grande incentivador durante o percurso dos jovens. “Ele propôs que utilizássemos mais experimentações, outros materiais, outras superfícies para pintar, outro método de desenho, por isso não temos um estilo definido, as pinturas surgem de acordo com as nossas experimentações artísticas e os diversos elementos que utilizamos”, destaca o artista.
Apesar
dos desafios e situações constrangedoras, os muros pintados pelos
artistas, embelezam e alegram os ambientes urbanos de Parintins. Com
a arte reconhecida, surgiram as encomendas, o que os ajudou a custear
os materiais que, raramente são encontrados em Parintins, outros
eles compram pela internet.
Exposições e a dimensão artística
Os
artistas participaram da abertura do 11º Salão Curupira de Artes
Plásticas, em Manaus, evento realizado em 2018, onde foram expostas
várias exposições com a participação dos artistas de Manaus e do
interior do Amazonas.
A
segunda exposição foi individual, intitulada de Conterrâneo,
ocorreu em 2019, na galeria do Largo São Sebastião, espaço em
frente ao Teatro Amazonas, no centro de Manaus.
“Essa
exposição abriu muitas portas para gente, as pessoas viram que em
Parintins tem o trabalho de arte urbana, que há também artistas da
arte contemporânea”, ressalta Kemerson, referindo-se a exposição
Conterrâneo.
Recentemente
os jovens participaram da exposição intitulada “Lixo nosso de
cada dia”. O evento aconteceu em outubro de 2019, nas dependências
do Liceu de Artes Claudio Santoro, em Parintins. À convite da
museóloga Veralucia Ferreira, os artistas produziram dois murais de
instalação, unindo o grafite ao lixo produzido na cidade.
Os
Curumiz
e as obras “Eu” (à esquerda) e “Até o tucupi” (à
direita).
Ambas foram produzidas para a exposição “Lixo nosso de
cada dia”. Foto: Rendrick Azevedo.
Futuramente
os artistas almejam expandir suas obras para outros lugares, onde a
arte urbana é mais presente, com o intuito de engrandecer o trabalho
e buscar mais valorização. Entretanto, não só as metrópoles
estão nos planos dos artistas, Alzyney acrescenta que levar a arte
às pessoas mais necessitadas também faz parte do caminho que eles
pretendem percorrer. Poder levar o estilo às comunidades
ribeirinhas, outros locais circunvizinhos da cidade de Parintins são
de suma importância para que eles possam se identificar, visto que,
são personagens fortemente presentes nos murais.
“Mãe terra”, produzida em um dos muros no centro da cidade de Parintins-AM.Foto: Arquivo pessoal Curumiz. “A arte existe porque a vida não basta”, é a frase que kemerson leva para a vida. O jovem acredita que o principal objetivo do trabalho dos Curumiz é fazer as pessoas compreenderem a arte além do que elas já conhecem. “Transformação” é a palavra que Alzyney determina como um importante papel desempenhado pela arte. “Esse é o nosso propósito, transformar as pessoas e os lugares que estavam mortos, por meio das cores e acima de tudo fazer com que as elas se identifiquem nas obras, retratando o seu cotidiano, a sua identidade cultural”, conclui o jovem.
Colorindo
a cidade de Parintins, com a obra “Flores amazônicas”. Foto:
Arquivo pessoal Curumiz
Painés “Flor de menina” e “Ribeirinhos”, fizeram parte da XI exposição do Salão Curupira de Artes, em Manaus, 2018. Foto: Arquivo pessoal Curumiz
"Tracajás
de beiradão”, a obra fez parte da exposição “Conterrâneo”,
realizada
no
Largo
São Sebastião, em Manaus.
Foto: Arquivo pessoal Curumiz, 2019.
"Umukosurãpanami-
criador da luz no universo"
Arte
feita sobre a mitologia do índios dessana sobre criação do sol, do
universo, tendo como referência o livro "Antes o Mundo não
existia", da qual conta que este heroi dessana Umukosurãpanami
direcionado por Yeba Boro, joga sua lança contra o nada, criando a
luz no universo, assim nascendo o sol e o sistema cósmico. Foto e legenda:
Arquivo pessoal Curumiz
*Parintins é um município brasileiro no interior do estado do Amazonas. Pertence à mesorregião do Centro Amazonense e microrregião de mesmo nome, localizando-se no extremo leste do estado, distante cerca de 369 quilômetros da capital Manaus (IBGE)
|
Bem vindo ao Mural Das Narrativas!! Aqui você vai encontrar histórias inspiradoras, por meio das mais diversas narrativas. Inspire-se! Conheça! Comente! Compartilhe e tenha uma agradável leitura!
quarta-feira, 20 de novembro de 2019
CURUMIZ: um novo conceito na arte amazônica
domingo, 27 de outubro de 2019
VOZES DE PARINTINS: Rádio-poste e Comunicação na Amazônia profunda
Capa do livro-reportagem/ designer Vando Costa
A obra propõe-se a contar a história das rádios-postes Amazônia Beira Rio e a Voz Comunitária de Parintins por meio do
resgate histórico, das memórias orais e bibliográficas de quem vivenciou os
principais serviços de rádio por alto-falantes, que perduraram durante a
construção da cidade de Parintins enquanto sua formação urbana nas décadas de
30 até os dias atuais, validadas por fotografias emblemáticas da época.
Neste caso, a narrativa abordada nesta obra se faz por meio das rádios-postes,
conhecidas no Baixo Amazonas como Vozes,
e em todos os capítulos deste livro serão assim identificadas. Esses meios de
entretenimento muito serviram e continuam a contribuir com a comunicação
parintinense, apesar do curto alcance. Funcionam em sistema de alto-falantes,
de baixa potência, atingindo apenas alguns quilômetros, não sendo ouvida por
todos.
Cicilia Peruzzo (2010) afirma que a rádio de alto-falante é uma
modalidade de rádio comunitária, conhecida popularmente como rádio-poste ou
rádio-corneta. Transmite as mensagens por meio das bocas de alto-falantes e
caixas amplificadas de som. São instaladas geralmente em postes de iluminação
pública, árvores ou torres de igreja. (PERUZZO, 2010)
Milton
Jung (2011), no livro Jornalismo de
Rádio, relata a transmissão artesanal feita por esse serviço, e de como
chegava aos receptores um veículo sonoro que encantou Roquete-Pinto (um dos
primeiros a trabalhar com radiojornalismo) ao ver pela primeira vez o
funcionamento de um alto-falante.
Paulo Lobato Teixeira (2007) destaca
que os serviços de alto-falantes foram e ainda estão presentes na Amazônia
profunda. Nas zonas rurais do estado do Amazonas, os serviços de alto-falantes
não apenas existem como são fundamentais para a região.
Atualmente, na cidade de Parintins restaram
poucos serviços de alto-falantes. É interessante pontuar que os cones de ferro,
principais coadjuvantes desse sistema, que existem desde o início da cidade e perduraram
até os dias atuais, continuam a fazer parte do cenário comunicacional de
Parintins, mudando apenas de nomes, mas mantendo as mesmas características e
englobando os serviços variados por meio de avisos, propaganda e campanhas de
consciência ambiental.
Uma das motivações para a realização da pesquisa que culminou neste livro
remonta à minha infância, preenchida pelas Vozes
desde os tempos áureos de escola, na minha amada terra natal, o distrito de
Mocambo do Arari, zona rural de Parintins. Como não lembrar, pontualmente, ao
meio dia e trinta, horário do Jornal da
Amazônia, quando a Voz Talismã,
situada na residência do professor Carlos Cid, entrava em cadeia com a Rádio Alvorada, e minha mãe alertava-me
que já estava na hora de eu ir para aula?
Durante as manhãs, os avisos de reuniões da escola e da comunidade eram
veiculadas na Voz de Juscelino, e ao lado da Escola Santa
Maria, onde dei os primeiros passos na vida escolar, ainda recordo-me dos
lembretes e as músicas durante o recreio e no término das aulas, ecoados pela Voz.
No final da tarde, dirigindo-se para a noite, lá estavam os alto-falantes
da Voz Talismã, novamente embalando
as músicas de Chico da Silva e Roberto Carlos, certamente servindo de relógio
para os estudantes do horário noturno.
Por meio deste resgate memorial,
desejo a todos uma ótima viagem ao passado e uma agradável leitura!
O livro contém cinco capítulos |
Orientadora professora dra. Karliane Nunes Macedo Foto: José Brilhante |
Banca avaliadora professores doutores: Gerson Andrade, Karliane Nunes e Maria Audirene Cordeiro Foto: José Brilhante |
O livro ainda não foi lançado. Está disponível para recebimento de patrocínios!
Contato: (92)994070614 Aldair Rodriguessexta-feira, 25 de outubro de 2019
Parintins e seus visitantes, amantes da cultura do boi-bumbá
Na sua garupa, carrega cds, divulgando a melodia sertaneja na terra das toadas. Apresenta-se pelo nome 'Sombra', muito ágil ao subir o seu transporte. A altura nenhum pouco modesta. Carrega no guidon a face de um boi, figuramente representado pelos afintriões da ilha, Garantido❤ e Caprichoso💙.
Foto:@Ald.Rodrigues, 2018
Quem nunca parou para escutar a harmoniosa e tranquilizante melodia de Pedro Quiper, na Praça Eduardo Ribeiro? Andarilho há mais de 30 anos. Conheceu mais de dez países. É músico e multi-instrumentista. Natural do Chile. Esteve por Parintins, trazendo a cultura da sua região, vendendo seu artesanato e tocando o coração dos parintinenses.
📝Informações de Suzane Barbosa
Foto: @Ald.Rodrigues, 2018
A simpática turista, vendedora de brincos. Toda sorridente, fez questão de pousar para a foto, numa de suas passadas pelo famoso Bar do Comunas, na orla da cidade de Parintins.
Foto: @Ald.Rodrigues, 2018
Os rapazes, nitidamente expressam a paixão pelos bois bumbás, representados pelos adereços nas respectivas cores vermelho e azul. Aproveitando a cidade, o calor e os encantos da ilha.
Foto: @Ald.Rodrigues, 2018
#turistas #Terra_hospitaleira #Tem_turista_o_ano_todo
#Parintins_AM
Caminho de penúria
O descanso do andarilho Foto: Aldair Rodrigues
Após percorrer as calorosas ruas, os badalados eventos e os constantes olhares de nojo e compaixão, o repouso é a melhor opção.
A cor morenez maltratada pela própria luz que lhe servira, exala o odor do cansaço em suas vestes raramente ensaboadas.
No rosto as marcas de um caminho regado ao vício, ao desprezo, a cegueira perceptível, ao tímido sorriso falho.
De sua boca um emaranhado de palavras, a incoerência entre o sujeito e a ação, entre o que é certo ou errado, são apenas palavras ao vento.
No corpo a dor do destino cruel, da irracionalidade, da escolha inconsequente, do abandono fraternal, talvez.
Na anestesia do sono, ainda há sonhos? Ou é apenas um corpo em repouso? Uma matéria no espaço? Há esperanças ao acordar?
Enfim ele desperta aos sons das buzinas e motores dos carros e motos que insistem em perturbá-lo.
Com a mochila nas costas e a sacola quase cheia ele sai novamente, passos lentos, resmungando com o vento!
Texto e foto: Aldair Rodrigues
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
FAMÍLIA HOMENAGEIA SANTO CASAMENTEIRO EM PARINTINS
Gerações da família Cid Foto: Aldair Rodrigues |
O dia 13 de junho é considerado a dia oficial em honra a Santo Antônio, intitulado por seus adoradores como o santo casamenteiro. Há mais de duas décadas, a família Cid, tradicional da rua Alberto Mendes, no bairro do Palmares em Parintins, realiza a distribuição de guloseimas aos já conhecedores do evento e aos passantes que circulam em frente a residência da família.
O festejo, que partiu do patriarca Francisco Luis do Amaral Cid, a princípio era realizado no dia 23 de junho, com a distribuição apenas do mingau de munguzá. Dona Valderiza Cid, viúva de Francisco, questinou ao marido na época , para que a festividade fosse realizada na data oficial do santo, dia 13 de junho.
A partir desse questionamento, oficialmente o evento passa a ser realizado anualmente, no dia 13 de junho, em frente à residência dos Cid. Para Valderiza, dar continuidade a esse ato de fé, legado deixado pelo falecido esposo, simboliza renovação da promessa e gratidão, às conquistas alcançadas pela família ao longo dos anos.
No evento, além do tradicional mingau, são distribuídos bolo e pipoca. A noite é aquecida pela fogueira que simboliza a fé viva no berço familiar. Enquanto são degustadas as iguarias, o som junino é entoado, celebrando o momento de alegria e gratidão ao santo.
Apesar de o evento alcançar apenas os passantes da rua e os amigos conhecedores da honraria, dona Valderiza e os filhos anseiam para que a cada ano, o festejo se torne cada vez mais popular.
Fotos e texto: Aldair Rodrigues
VIDA DE BARBEIRO
Francisco Justo Nascimento Foto: Aldair Rodrigues |
"Pra fazer barba eu desafio qualquer um". Foram palavras de Francisco Justo Nascimento, 73 anos, ao me responder sobre o longo percurso da nobre profissão.
Sangue nordestino, vindo da cidade de Sobral, no Ceará. Chega em Parintins no ano de 1981. São 37 anos no ramo da barbearia.
"Faço somente trabalho de barberia". Ele diz, ao mesmo tempo em que empunha nas mãos já calejadas pelo tempo, ligeiramente a navalha sem perder a agilidade.
No universo das lojas que movimentam a Avenida Amazonas está o Salão Cometa. Lugar pequeno, aconchegante e muito iluminado.
Não pelas lâmpadas fluorescentes fixadas no telhado interno. Mas, pela força de sua vitalidade e simpatia que ele demonstra a cada sorriso receptivo aos clientes, durante as três décadas.
Texto e foto: Aldair Rodrigues
#RostosUrbanos #Parintinense #Barbeiro #ACaradeParintins #SalãoCometa
CAFÉ E CONVERSA COM MULHER
Kayth karine e Leane Oliveira, organizadoras do evento |
"Café e conversa com mulher" foi o evento ocorrido no dia 8 de outubro, no auditório da Ufam em Parintins, organizado pelas acadêmicas do curso de Comunicação Social- jornalismo Kayth Kariny e Leane Oliveira da mesma instituição.
Com o tema "Uma comunicação feminista", a roda de conversa foi mediada por representantes dos movimentos sociais feministas de Parintins e abordou o conceito, além de esclarecer as dúvidas que norteiam essa temática em prol à luta pelos direitos das mulheres na sociedade.
Após o bate-papo, foi servido um café regional aos participantes, e também houve a coleta de assinaturas para que, o dia 8 de março, considerado o Dia Internacional da Mulher se torne feriado municipal.
Fotos: Assessoria do evento
#CaféEConversaComMulher #MovimentosSociaisFeministas #AcadêmicasDiscutemOFeminismo #Jornalismo #UfamParintinsAM
RAPHAELA PRATA
Foto: Aldair Rodrigues
“Se
assumir é uma grande libertação para respeitar o nosso eu interior
e buscar a felicidade”
Natural
de Parintins-Am, 31 anos, Raphaela faz parte da Associação de Gays,
Lésbicas e Travestis de Parintins (Aglpin) na área de finanças. É
educadora no projeto “Viva Melhor Sabendo”, realizado pelo
Healthcare
Foundation
Brasil (AFH); uma iniciativa desenvolvida no Brasil desde 2014 e
agora ganha espaço no município de Parintins. A ação amplia a
testagem do HIV mediante a tecnologia de testes rápidos por fluido
oral, além de conscientizar a população quanto a prevenção.
Raphaela não fugiu do preconceito. Hoje ela luta pela classe LGBTI e
encara a vida de uma forma mais leve e feliz. Sorridente, bem
humorada e com clareza nas palavras, ela conversou com o Mural das
Narrativas e compartilhou sua história.
Mural das
Narrativas:
Como
você se identifica atualmente na sociedade?
Raphaela
Prata:
Eu sou uma travesti, mas me identifico como uma mulher. Aos poucos a
gente vai conquistando o nosso espaço. Não seria uma conquista só
minha, mas de todo o movimento ao qual eu represento.
M.N:
A
partir de que momento você percebeu que o seu comportamento era
diferente dos outros meninos?
R.P:
Na minha infância, entre os sete, oito anos eu brincava muito com
meninas. Eu brincava com as coisas da minha irmã. A minha mãe
comprava uma boneca para ela, eu queria às vezes para mim. Eu não
tive muito contato com meninos. Então eu ficava triste por não me
encaixar nas brincadeiras deles. Devido a isso, eu ouvia muitos
comentários maldosos.
M.N:
Como era a reação da sua família diante desse comportamento?
R.P:
Na verdade eu tenho outra irmã que também é trans.
Meu pai não gostava, na época que eu comecei a me transvestir ele
dizia que eu seguia o exemplo do meu irmão. Ao mesmo tempo em que
ele me aceitava demonstrava que não aceitava. Hoje em dia ele me
apoia em tudo o que eu faço. Eu tenho uma família que é a base de
tudo na minha vida.
M.N:
Qual foi a maior dificuldade durante esse processo?
R.P:
Acredito que, ser aceita na sociedade não foi fácil. É importante
frisar que ninguém escolhe ser uma travesti. Nascemos com isso e se
desenvolve na infância, na adolescência. Eu já me ‘montava’
para shows
de transformismo, e outros tipos de eventos. Mas, passei a me
transvestir constantemente só depois dos dezoito anos.
M.N:
Como
foi o procedimento para oficializar o novo registro de identidade?
R.P:
Eu participo de vários grupos voltados à classe LGBT em Manaus. Nós
do movimento trans de Parintins temos parceria com a ASSOTRAM
(Associação e travestis, transexuais e transgêneros do Estado do
Amazonas) que é de Manaus. Sou muito grata ao Dr. Rodolfo Lobo,
defensor público que abriu muitas portas para a gente nessa questão.
Nos nossos encontros debatíamos sobre esse tema, então foi aí que
surgiu o interesse, já que a lei tramita desde o dia primeiro de
março de 2019. Primeiramente eu troquei o título eleitoral e o
cartão do SUS, ultimamente eu fiz a retificação na certidão de
nascimento em parceria com a defensoria pública. Acredito que na
retificação do RG [registro geral] eu tenha sido uma das primeiras
trans
parintinenses.
M.N:
Você passou por alguma situação constrangedora referente a documentação ainda não oficializada?
R.P:
Uma
vez eu estava num Congresso em Manaus, eu estava toda ‘montada’ e
um rapaz perguntou meu nome e eu disse que me chamava Raphaela Prata.
Ele insistiu em saber o meu nome de batismo, então houve a maior
discussão, mas recebi o apoio dos amigos que estavam comigo no
evento, tentando evitar a situação constrangedora.
M.N:
Como você analisa as políticas públicas ao tratar essa questão?
R.P:
Eu
gostaria que houvesse mais projetos que amparassem os LGBTs. Na
questão da empregabilidade, muitos encontram dificuldades no
primeiro emprego, pela falta de oportunidade, e isso acarreta na
maioria das vezes, o acesso às drogas e prostituições.
M.N:
Como
você enxerga a sociedade, ao tratar esse assunto tão polêmico?
R.P:
Acredito
que, de forma geral existe muito preconceito, mas as pessoas tentam
esconder isso. E também o preconceito existe muitas vezes porque a
maioria demonstra uma certa insegurança, além de que, muitas trans
são vulgares e isso acaba contribuindo.
M.N:
Você está satisfeita com o seu corpo? Se tivesse que mudar algo em
você, o que seria?
R.P:
Estou
satisfeita sim. Acho que não mudaria nada. Eu apenas faço um
tratamento de hormonioterapia em Manaus com uma especialista.
M.N:
A
redesignação sexual é um procedimento operatório muito delicado e
não é somente a troca do orgão sexual, mas depende do processo
psicológico do paciente. Você tem interesse nesse procedimento?
R.P:
Não
e nem pretendo. Não discrimino quem fez, não tenho vontade. Eu
estou muito feliz com o meu corpo.
M.N:
Quais os seus planos para o futuro?
R.P:
No
momento não tenho eles definidos, mas gostaria de ser mais
respeitada na sociedade e nunca deixar de militar pelo movimento que
represento. Quando eu entrei na associação LGBT, não conhecia
muita coisa relacionada ao nossos direitos e agradeço a ela por me
proporcionar esse leque de oportunidades e conhecimentos.
"Eu
gosto e ler, me empoderar nos assuntos LGBT".Raphaela Prata
Foto:
Aldair Rodrigues
"Orgulho
é poder ser quem você é, em um mundo que te diz o contrário".
Raphaela Prata
Foto: Aldair Rodrigues
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