O objetivo é auxiliar educadores das escolas indígenas no
processo de ensino-aprendizagem e melhorar a comunicação
dos alunos com problemas auditivos
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O livro é um conteúdo variado com técnicas de traduções linguísticas de fácil compreensão. |
Constituída por um
rico vocabulário, a língua Sateré-Mawé, membro único da família Mawé e parte do
tronco linguístico Tupi, é falada e escrita por aqueles que fazem parte da
etnia. De acordo com informações do Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé (CGTSM),
em 2014, a população Sateré-Mawé
somava aproximadamente 13.350 indígenas, vivendo na capital do
estado, Manaus, e em comunidades dos rios Marau e Andirá, pertencentes aos
municípios de Maués e Barreirinha, que fazem
parte da microrregião de Parintins.
O Censo Escolar de
2016, realizado pelo Ministério da Educação (MEC), registrou a existência de
21.987 estudantes surdos e 32.121 com algum tipo de deficiência auditiva
matriculados na educação básica. Ainda de acordo com a pesquisa, existem
2.819 escolas indígenas em todo o Brasil,
atendendo a aproximadamente 195 mil estudantes indígenas,
distribuídos desde
a Educação Infantil até o Ensino Médio.
Diante desse
contexto, o professor de Língua Brasileira de Sinais (Libras) da Universidade
Estadual do Amazonas (UEA), Marlon Jorge Azevedo, que também é surdo, criou o Minidicionário Indígena Sateré-Mawé em
Libras e Língua Portuguesa, resultado de sua dissertação de mestrado,
defendida no Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGLA) da UEA em 2015.
O produto trilíngue
(Sataré-Mawé, Língua Portuguesa, Libras) é direcionado ao ensino-aprendizagem dos
indígenas surdos Sateré-Mawé e disponibiliza um conteúdo variado com destaque para técnicas de
traduções linguísticas de fácil compreensão.
Segundo Azevedo, a
ideia surgiu a partir de uma conversa com um grupo de surdos pesquisadores da
Federação de Surdos no Rio de Janeiro em 1990. “Nesse encontro, um dos
participantes me perguntou se havia surdos indígenas no Amazonas. Então,
comecei a pesquisar em lugares das microrregiões de Parintins e viajei para
seis municípios: Barreirinha (Ponta Alegre), Nhamundá, Boa Vista do Ramos,
Maués, Urucará e São Sebastião do Uatumã. Nessa primeira pesquisa, encontrei
dez indígenas surdos Sateré-Mawé”, afirmou.
O pesquisador
realizou um mapeamento com o objetivo de averiguar a quantidade de indígenas
surdos nos municípios da microrregião de Parintins. Foram muitos os problemas
enfrentados nesta etapa da pesquisa, dentre os quais Azevedo destaca a
dificuldade de acesso às áreas indígenas e à
indisponibilidade de dados e
informações na Fundação Nacional do Índio (Funai) de Parintins. “Algumas
comunidades são muito distantes e, em alguns trechos, o rio é muito estreito e
perigoso”, explica o professor, enfatizando também a burocracia a ser
enfrentada no processo de busca de
dados. “Eu precisei da autorização do chefe da aldeia, e isso foi bastante
complicado”, desabafa.
O coordenador da Funai, Sérgio Butel, atribui
essa falta de informação à fragmentação que ocorreu no órgão a partir de 2009
no que concerne às atribuições das áreas da educação e da saúde indígenas.
Segundo ele, até aquele ano, a Funai cuidava dessas áreas e podia manter os
dados atualizados. Com a transferência das questões da educação para a
Secretaria de Educação (Semed) e da saúde para a Secretaria de Saúde Indígena
(Sesai), as informações ficaram restritas. “Com isso, não temos um
levantamento, um mapeamento do número de crianças especiais que estão na
escola”, afirma Butel.
Para ele, o
minidicionário é um trabalho muito importante, pois a língua acaba se tornando
uma barreira para o estudante indígena que migra para a área urbana e não
compreende a língua portuguesa. Além de ajudar os alunos Sateré, o livro tem
como objetivo dar suporte aos professores que trabalham com essa questão.
Ao longo da
pesquisa, foram realizadas algumas oficinas de Libras para que Azevedo pudesse
avaliar o nível de aceitação das crianças indígenas, e o resultado, segundo
ele, foi muito positivo: “Quando eu mostrava, através do livro, objetos
utilizados na aldeia, eles demonstravam receptividade e, à medida que a prática
avançava, eles conseguiam se expressar e sinalizar”, conta o pesquisador.
Samantha Rocha,
coordenadora pedagógica da Semed, esclarece que, no âmbito educacional, as
dificuldades enfrentadas pelo surdo relacionam-se sobretudo à falta de
comunicação, o que exige na escola a presença de um profissional especializado
na língua de sinais. Para minimizar a ausência desse tipo de profissional em
Parintins, Rocha explica que há um espaço reservado na sede da Semed. “Temos a
sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE), mas o que acontece é que
são colocados profissionais que contemplam um pouco de cada deficiência, sendo
que o surdo exige um conhecimento mais especializado não só sobre a didática
mas também sobre língua usada para a comunicação”, conclui.
A ausência de
profissionais especializados em Libras também é uma realidade nas escolas
indígenas que possuem alunos com deficiência. Para o coordenador da Funai,
Sérgio Butel, isso não é exclusividade de Parintins. Trata-se de um problema
presente na maioria dos municípios que tem alunos indígenas e que, para
garantir aquilo que a lei determina quanto ao direito indígena a uma educação
específica e adequada ao costume de cada povo, mantém as escolas com
dificuldades.
Um problema grave é
a ausência de um Projeto Político-Pedagógico próprio. Ainda de acordo com
Butel, nesse sentido as discussões ainda estão engatinhando e são poucas as
escolas indígenas que possuem uma proposta, de fato, construída junto à
comunidade indígena. “Normalmente, se faz educação indígena com livro didático
do ‘branco’, com projeto do ‘branco’ e com os saberes do ‘branco’.”, enfatiza o
coordenador.
A pesquisa que
culminou na produção do minidicionário contou com a participação de entidades que buscam o bem-estar indígena, dentre as quais
a Casa de Trânsito Sateré-Mawé de Parintins, através do coordenador da
instituição e professor indígena José
Douglas de Oliveira, que corrobora a importância do projeto de Azevedo. “Esse
livro é uma iniciativa que ajuda muito, acredito que é um bom começo, ele tem
que continuar. Quando eu vejo um livro de alguém que se importa com a tribo e
faz um trabalho bom, eu me alegro muito”, diz o professor Sateré, que destaca o
seu desejo de ver toda a sua tribo tendo acesso à educação.
A continuidade do
projeto é um desejo também de Azevedo, que planeja aprofundar suas pesquisas em
torno do tema, abrangendo outras línguas indígenas. Atualmente, o seu esforço é
para viabilizar a publicação do minidicionário, o que requer apoio financeiro.
O Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) reforçou a política
de acessibilidade para a realização do Enem através da videoprova traduzida em
Libras, recurso este utilizado por 1.635 participantes em 2017. Ao todo, foram
contabilizadas 4.390 solicitações de atendimento especializado para casos de
surdez e deficiência auditiva.
“Desafios para a
formação educacional de surdos no Brasil” foi o tema da redação do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorreu em novembro de 2017. A presidente
do Inep, Maria Inês Fini, declarou que é confortante receber de milhares de
jovens felicitações tanto pela temática escolhida quanto pela equipe empenhada
no primeiro dia de prova.
REPORTAGEM PRODUZIDA PELOS ACADÊMICOS DE JORNALISMO DO QUINTO PERÍODO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS/CAMPUS PARINTINS:
*ALDAIR RODRIGUES
*EVELYN BRITO
*KATRIANE BERNARDES
*LARA SOUZA
*NÁGELA MENEZES
*NEANDRO MARQUES
*POLIANA AZEVÊDO
ORIENTADORA: PROFESSORA, KARLIANE NUNES
FOTOGRAFIAS/BASTIDORES
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Entrevista com o coordenador da Casa de Trânsito Indígena José Douglas |
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Repórteres, Katriane Bernardes e Polyana Azevêdo, na entrevista com o coordenador da Casa de Trânsito Indígena |
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Colaboradores da reportagem, Marlon Jorge, Samantha Rocha (ao centro), juntamente com a professora Karliane Nunes e equipe |
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fotos para a reportagem |
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coordenador da Funai, Ségio Butel |
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capa do jornal Tupã News |
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matéria impressa |