Tudo começa com uma ‘bolinha de gude’ no meio
do dia ou no fim da tarde, talvez o dia todo.
As crianças vão chegando no terreno baldio
com uma alegria e adrenalina inexplicável. O local só precisa ser plano e com
um bom pedaço de terra que a velha infância teima em descobrir.
Logo é desenhado no chão o ‘turite’ e a ‘lavoura’.
Esta última é decidida pelos participantes a que distância ficará.
As bolinhas de vidro são emparelhadas, cada
jogador é obrigado a deixar uma no cobiçado ‘turite’, que ao mesmo tempo
recupera em uma situação de perda total durante o jogo, mas pode trazer fama de
apelão.
Uma briga saudável começa logo quando
decidem quem é o primeiro ou o último a lançar, é inebriante, porque o sucesso dos
ganhos das bolinhas depende disso e, também da boa pontaria com os dedos.
O detentor do primeiro ‘tecar’ é
decidido ao lançar da bolinha, quando mais perto da linha ficar, a ordem do
primeiro é decidida.
É empolgante ver todas as ‘ponteiras’
prontas para serem atingidas e por conseguinte ganhar uma em troca. Às vezes
acertar é tão difícil quanto parece, pode estar perto ou longe. Porém, antes o
ritual inconsciente do ‘castelo’ é
feito no mirar dos dedos, para o estalar de bolinha com bolinha, isso é mágico!
Os palavrões são ouvidos de quanto e
quanto. Deve ser uma forma de desalento por conta do erro ou uma forma de melhorar
a pontaria.
“Ratão” é a expressão usada pra quem
tenta trapacear. Quando isso acontece uma gritaria misturado com risos, correm
para ‘abecar’ e recomeçar o jogo da lavoura.
Assim com todas as emoções e perdas, a brincadeira
até o fim é apreciada avidamente, com alguns indo aos ‘piti’ e ouros com os
bolsos e mãos cheias do prêmio máximo, a bolinha de gude.