terça-feira, 27 de março de 2018

VERDADEIRA INFÂNCIA



 Por: José Caldeira

  Curumins revivendo brincadeiras do passado                     Foto: José Brilhante   


Tudo começa com uma ‘bolinha de gude’ no meio do dia ou no fim da tarde, talvez o dia todo.
As crianças vão chegando no terreno baldio com uma alegria e adrenalina inexplicável. O local só precisa ser plano e com um bom pedaço de terra que a velha infância teima em descobrir.
Logo é desenhado no chão o ‘turite’ e a ‘lavoura’. Esta última é decidida pelos participantes a que distância ficará.
As bolinhas de vidro são emparelhadas, cada jogador é obrigado a deixar uma no cobiçado ‘turite’, que ao mesmo tempo recupera em uma situação de perda total durante o jogo, mas pode trazer fama de apelão.
Uma briga saudável começa logo quando decidem quem é o primeiro ou o último a lançar, é inebriante, porque o sucesso dos ganhos das bolinhas depende disso e, também da boa pontaria com os dedos.
O detentor do primeiro ‘tecar’ é decidido ao lançar da bolinha, quando mais perto da linha ficar, a ordem do primeiro é decidida. 
É empolgante ver todas as ‘ponteiras’ prontas para serem atingidas e por conseguinte ganhar uma em troca. Às vezes acertar é tão difícil quanto parece, pode estar perto ou longe. Porém, antes o ritual inconsciente do ‘castelo’ é feito no mirar dos dedos, para o estalar de bolinha com bolinha, isso é mágico!
Os palavrões são ouvidos de quanto e quanto. Deve ser uma forma de desalento por conta do erro ou uma forma de melhorar a pontaria.
“Ratão” é a expressão usada pra quem tenta trapacear. Quando isso acontece uma gritaria misturado com risos, correm para ‘abecar’ e recomeçar o jogo da lavoura.  

Assim com todas as emoções e perdas, a brincadeira até o fim é apreciada avidamente, com alguns indo aos ‘piti’ e ouros com os bolsos e mãos cheias do prêmio máximo, a bolinha de gude.